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Introdução ao Som para TV e Cinema

Atualizado: 28 de out. de 2021

Uma audiência pode tolerar uma imagem ruim, mas um som falho é algo que estraga a experiência facilmente. Um projeto audiovisual tem como som papel igualmente relevante comparado a imagem. Neste breve artigo vamos analisar alguns conceitos e dar dicas sobre como melhorar seu desenho de som, seja para TV, animação, filmes, documentários ou conteúdo digital.




HISTÓRIA E FUNDAMENTOS


Começaram a ser tocados instrumentos por músicos ao vivo acompanhando teatros na China e na Índia 3000 anos B.C. No começo do século XX, com a popularização do fonógrafo, finalmente ouvimos algum som nos cinemas. Nos anos 50, o rolo de filme nas telonas era sincronizado com um outro rolo de fita magnética que continha algum tipo de áudio, mas ainda bastante simples. Demorou um tempo para que os filmes finalmente tivessem diálogos e as TV's tivessem speakers. Apenas em 1970 com o filme "Apocalypse Now" de Coppola, é que o conceito de sound designer foi creditado. Fomos do mono, para o stereo e finalmente para o imersivo surround que experimentamos hoje.

O som de um projeto audiovisual é composto de: Efeitos sonoros, ambiências (backgrounds), música e diálogo. É recorrente terem um caráter hyper-realista para "convencer" o público, e são o suporte narrativo ou contraste da estória apresentada. Muitas vezes pode estar tão integrado a imagem que passará despercebido para a grande maioria do público.

Outro conceito muito utilizado são os termos "Diegético" e "Não-Diegético". Sons diegéticos são presentes no universo da ação. Aqueles que os próprios personagens do filme conseguem escutar. Pode ser on-screen ou off-screen. Sons não-diegéticos apenas existem numa instância narrativa, do conhecimento apenas do público, como trilhas sonoras que não são justificadas por nenhum objeto em cena.


EQUIPS E GRAVAÇÃO


Vamos começar elucidando o sistema de gravação. A captação de som pode ser feita diretamente na câmera (modo muito utilizado em cenários não-controláveis, como documentários), ou em um gravador externo, o que normalmente lhe fornecerá maior qualidade de áudio que os inputs da câmera. Algumas marcas famosas de gravadores para este fim são Tascam e Zoom.

Em relação ao ambiente, preste atenção aos sons. Existem sons controláveis (geladeiras, ventiladores e aparelhos móveis), e sons não controláveis (vento, mar etc...). Para estes pesquise com antecedência a sua locação e tenha planejamento. Entretanto existem técnicas e improvisos para evitar muitos ruídos e pops durante o processo.

Microfones: Existem dois tipos muito utilizados. Shotguns e lapelas. Shotgun mics são ultra-direcionais, normalmente agarrados a boom poles e dentro de acessórios "fluffy" anti-vento. Estes tipos de microfone captam áudio direcional sem muita intervenção de barulhos ambientes, e o boom pole serve para facilitar o manuseio sem aparecer na imagem. Também existem os microfones lapela, usados secundariamente e também muito vistos em entrevistas. São aqueles pequeninos acoplados a roupa ou cabelo (por vezes escondidos). Marcas conhecidas de microfones para audiovisual são Rode e Senheiser.

Para além disso existem uma diversidade de acessórios, pré-amps, cabos, conectores e headphones que estarão em cena. Tenha certeza de testar tudo antes do "ação", ou "sound rolling", e não tenha medo de interromper caso haja um problema no áudio!



FOLEY E ADR


Brevemente vamos levar em consideração estes dois importantes aspectos da pós produção, que normalmente vêm antes ou durante o processo de mixagem.

Foley é uma arte singela e antiga, onde são utilizados objetos diversos (e por vezes nada relacionados), para gravar sons introduzidos na imagem. Antigamente existiam artistas de foley que iriam performar em tempo real todo um filme com seus objetos em estúdios de gravação. Hoje isto é facilitado pelas tecnologias de edição e pela infinidade de samples que se encontram na internet.

ADR é sigla para Automated Dialogue Replacement. Semelhante a uma dublagem, é necessário para aqueles diálogos que não tem boa qualidade de gravação em locação exterior ou que precisam de outra entonação. É uma técnica oculta ao público porém muitíssimo usada pelos grandes estúdios.



MIXAGEM E SURROUND


Vamos tratar logo do que mais causa curiosidade: software de edição. Diferente da indústria musical hoje em dia, onde uma série de programas competem entre si, no ramo audiovisual o Pro Tools ainda se mantém como opção majoritária entre os sound designers. Talvez na composição e síntese de sons se veja outros softwares sendo utilizados, mas no processo final de mixagem de um filme, por conta de suas capacidades de edição com timecode e funcionalidade surround, é mesmo um padrão hoje. Entretanto vale dizer que outras plataformas tem avançado muito nesse quesito e também podem ser profissionalmente utilizadas.

As DAW's de hoje possuem métodos inteligentes de sincronização com ferramentas de edição de vídeo através de arquivos de formato OMF e AAF (peça ao editor de vídeo), que transferem todas as infos de um programa para outro automaticamente, incluindo efeitos, fades, etc...

Em termos de gerenciamento de projeto, comparativamente a música, a principal diferença é que você não estará mixando 4 minutos com 20 tracks. E sim, algo em torno de 30 mins-2 horas, com centenas de samples, sfx, voice overs etc... Organização com os arquivos e faixas dentro da DAW é fundamental para não se perder e manter a produtividade.

Além de bit depth e sample rate do projeto (consulte o diretor e as configurações utilizadas em gravação), terá de ser decidido o formato dos canais. Stereo é o padrão para conteúdos digitais, documentários e programas de TV casuais. Entretanto podemos hoje ir um passo a frente com o Surround, speakers múltiplos distribuídos pela sala que dão a sensação de imersão e espaço sonoro. Podem ser desde 5.1 canais: Center, Right, Left, Rear Right, Rear Left + Subwoofer, até 9 ou 12 canais, incluindo speakers no teto. Existem estúdios de produção licenciados pela Dolby que mais parecem salas de cinema, preparados para isso. Muitas tecnologias tem ganhado força nesse quesito como Dolby Atmos, headphones surround e algorítmos para VR e AR.

Na mixagem, tenha as faixas organizadas em grupos de sons. É muito comum ter que nivelar os diálogos de fala, restaurar sons (iZotope RX Plugin), retirar ruídos e pops da gravação. E obviamente trabalhar fades, EQs e nivelar os sons da música com efeitos, ambiências, etc...

Por fim tenha certeza que está dentro dos standards em termos de níveis de Loudness (ou RMS) para os meios de broadcast e distribuição desejados. Faça sua pesquisa e tenha um bom plugin de Level Metering em mãos.

10 DICAS FINAIS (CRIATIVAS E PRÁTICAS)


1- Use hits de impacto altos para pontuação de grandes momentos.

2- Utilize o silêncio e ambiências para criar densidade e dinâmica de contraste.

3- Construa aos poucos para sentir a imersão. Pode experimentar aumentar volume e velocidade ao decorrer do filme.

4- Assim como na música pop, sirva-se da repetição. Os temas musicais ficam na memória. Podem ter pequenas variações, mas partem sempre de uma mesma composição ou padrão.

5- Misture foley e síntese sonora. Nada substitui uma ideia e visão de som original!

6- Para imersão de ambiências e grandiosidade, experimente modificar com reverbs.

7- Layering. Adicione sons por cima um dos outros para ter aquele SFX diferenciado e característico.

8- Música primeiro, efeitos depois. Ter uma noção de como será construída a música no projeto com antecedência ajuda ao saber quando adicionar os efeitos sonoros e quando dar espaço.

9- Pitch shift e reverse sounds. Tente utilizar estes efeito para de forma rápida e simples criar sensações totalmente diferentes.

10- Por fim, confie em seu instinto e seu ouvido. Nenhuma regra ou técnica pré-concebida é superior ao sentimento de que algo não funciona.



O áudio para filmes é um campo extremamente vasto para se estudar e explorar, e também depende da forma midiática e gênero cinematográfico. Os filmes de terror por exemplo são um prato cheio para sound design criativo, enquanto filmes de guerra exigem muita técnica e veracidade. Compartilhe conosco suas experiências! Quais approaches ou técnicas você utiliza? Em qual programa faz a pós-produção? Tem algum filme icônico na sua lista de melhores sound designs? Deixa aqui quaisquer dúvidas para conversarmos e boa sorte em seu projeto!


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